Não me tem apetecido escrever. E não é porque sinta a cabeça (o coração?) oca...Ao contrário : interiormente há um turbilhão de ideias, perguntas, inseguranças..Mas....Para quê registar o negativo? Não vale a pena.
Porém , o desafio lançado pela Sapo, a nós, país de poetas...acendeu uma luzinha! Não que, de momento, me ilumine alguma inspiração; mas porque me fez ir folhear papelada antiga...sim, porque eu sou do "tempo do papel"; e da caneta, que ainda hoje uso com alguma frequência...enfim, hábitos, que "vão fazendo o monge"... Pois...resolvi partilhar...coisas antigas, sem valor especial, momentos de outra época. Aí vai:
RETRATO
De cima da mesa
Sorri-me do retrato
O rosto rechonchudo
De criança,
Olhos redondos,tranquilos,
A confiança
De alguém que o amor envolve e cria.
De dentro do album de retratos
Daquela doce infância protegida
O mesmo rosto emerge
Com frequência
Duns braços de mulher, que irradia
a luz que ilumina todo o grupo...
A mãe dessa criança já morreu
E a criança, essa, sou eu.
Janeiro de 89
Como é Primavera, aproveito...
Abro a janela
E do quintal ergue-se
O aroma estonteante a laranjeira
Um melro negro, biquinho amarelo,
Saltita, enervado, pelo chão.
É Primavera.
E eu louvo a Deus pela quimera
Realizada cada ano em cada grão.
Cada semente recriadora dá vida
À vida em solidão.
Maio de 89
Não se esqueçam de mudar a hora! Se outras coisas pudessem ser mudadas da mesma forma...