Ao ligar hoje a televisão, apanhei o final de um progama sobre crianças, pais, creches, infantários...
Oa números aqui vão: inquiridos - 3000 pais
insatisfeitos com as creches - 71%
pedem o sábado - 21%
horas na creche - 9 (nove), sendo que, depois do normal horário dos profisionais, a TV é o babysitter de serviço na maior parte dos casos...
Fiquei apreensiva. E fui falando para com os meus botões...
Eu sou do tempo em que as crianças eram criadas / educadas em casa, com a família: a mãe, as tias, as avós...mulheres, enfim...
Os meus filhos já tiveram uma mãe-motorista a levá-los da escola à música e da música ao judo ou ao balet, num esforço de cumprir com os horários deles e as obrigações...
O que é certo é que, na última grande guerra,com a ida dos homens para os campos de batalha, as mulheres deixaram o lar e assumiram as tarefas deles nas leiras , nas fábricas, nas lojas, na administração, nas escolas...
Finda a guerra, nem havia homens suficientes para os serviços, nem as mulheres se dispuseram, em muitos casos, a abdicar das carreiras entretanto desenvolvidas com empenho e com mérito...embora sobrecarregadas com o trabalho dentro e fóra de casa.
Por outro lado, mesmo que preferissem ficar a tratar dos filhos, o salário dos maridos dificilmente seria suficiente para satisfazer as necessidades familiares...mais uma razão para se desdobrarem, como profissionais e mães/ donas de casa...as mais das vezes sem a compreensão e apoio dos homens, que levaram tempo a aceitar a partilha de encargos domésticos...
Estas reflexãoes surgem perante o problema em discussão: as creches, os jardins de infância, etc.,a necessidade de apoio aos pais trabalhadores, por um lado, e a"irresponsabilidade" de muitos que "entregam" os filhos, os deixam por períodos que chegam às 9 horas e que, em casos extremos, até se "esquecem" de ir buscar as crianças,exaustos ao fim de um dia de trabalho, transportes, distâncias...Depois...é a "deseducação" dos nossos jovens, entregues a estranhos, ou mesmo a si próprios, desde muito cedo...
Por mim, nada tenho contra a ida ao jardim de infância nos anos pre-escolares. Acho até que as crianças ganham por estarem junto com seus pares algum tempo por dia, com actividades esclarecidamente programadas e acompanhadas. Mas que os pais precisavam de se sentirem mais libertos da "escravidão" do trabalho para poderem passar mais tempo com seus filhos...disso não tenho a mínima dúvida, pelos direitos da criança, muito mais pelo direito dos pais a gozarem a companhia dos seus filhos, os acompanharem nos seus passatempos e actividades, conhecendo os seus amigos, sendo para eles um exemplo vivo e próximo de como se comportarem nas diversas situações da vida...Para tal...precisavam de não trabalhar 8...9...10 horas por dia...
O desemprego está aí, eu sei. Mas há muitos " empregados" que fazem o trabalho que devia ser feito por duas pessoas, que se esgotam, que se matam, que têm úlceras e depressões...sei lá...tudo porque o trabalho não está dividido racionalmente...( o mesmo sendo verdade para a paga de serviços,isso então em termos escandalosos, por mais valiosas e importantes que sejam as funções desempenhadas...)
Dizia alguém no tal progarma que ,em Israel, as mães trabalhadoras eram obrigadas por lei a deixarem o trabalho no kibutz(?) x horas por dia para estarem com seus filhos na creche e participarem efectivamente no cuidar, educar, com amor...de mãe. Que exemlpo!
Pois, para mim, o cuidar / educar das crianças seria verdadeiramente apoiado e fomentado dando aos pais melhores condições de trabalho, de forma a que o tempo lhes "sobre" para o acompanhamento da família, para a participção nas tarefas diárias, para o descanso merecido! E olhem que , quando digo "que o tempo lhes sobre" o faço com alguma ironia...mas com uma grande mágoa.