Chegaram felizes. Pálidos (do esforço?),desgrenhados (do capacete?) sorriso de orelha a orelha, disseram:já cá estamos, correu bem. Na véspera tinham avisado: vamos dar um passeio, não temos horas para chegar. Está bem, disse. Mas um ratito de preocupação ficou-me no peito. É sempre assim, há mais de vinte anos para cá...
Quando o problema se pôs pela primeira vez, desabafei com uma velha amiga que, de sorriso meio misterioso, meio malarandro,comentou e disse:Vou-te contar uma história...Aqui há uns tempos , o meu irmão telefonou-me e perguntou:"Dás-me de almoçar hoje? Posso levar uma pessoa amiga?" Claro que podia. Uma hora depois, vim para a janela, aguardando que chegasse. E vi parar uma moto. O meu irmão desceu e, solícito, ajudou o "pendura" a desmontar; com cuidado, tirou-lhe a protecção da cabeça e...ó céus! era a nossa Mãe! De Coimbra à Marinha, abraçada àquele filho, que fazia vinte anos de diferença da irmã mais velha...Quanto amor, quanta confiança!Como vês, disse, eu não serei a pessoa indicada para pedires ajuda na tua ralação...
Mas foi. Desde então fui-me habituando a aceitar, a confiar na capacidade, na prudência, no respeito pela "máquina", na sensatez do meu filho quarentão ( mas que me parece sempre criança...), que leva a mulher "a arejar" no pino do cansaço, que treina os filhos adolescentes na sua própria moto ou nas que amigos lhe emprestam para o mais novinho, que "investe" nesta e noutras práticas desportivas e de ar livre com os filhos, de igual para igual...na esperança de , com isso, lhes promover a auto-confiança, o respeito pelo risco,o espírito de grupo, o gosto pela aventura sadia...longe de bares, discotecas, noitadas...situações pouco recomendáveis...Conseguirá? Tenho esperança que sim...
Entretanto...Já o meu Pai gostava de motos! Antes de ter carros, teve motos...Quando? Bem, pelos meus cálculos, aí por 1930, 34, 35...Para que me ralo tanto...?Tenho mas é de os "entregar ao St. António", como costumo dizer, quando não tenho solução para as minhas angústias!