Uff! Finalmente sinto-me melhor! Graças a Deus. Não é nada agradável estar fisicamente diminuído - que foi como me senti a semana que passou. Sem forças para fazer grande coisa...enchi-me de televisão... estava ali, se queria olhava, se não...fechava os olhos ou mudava de canal. O Mezzo foi a melhor presença. A música, quando é boa, é excelente companhia, independentemente de género - canto, piano, vilolino ou flauta, clássica, barroca , jazz ou tango...ouvi de tudo um pouco, por intérpretes virtuosos, com maestros fabulosos.
De programa em programa, constato que , por mero acaso,acabei por visualizar programas sobre três escritores portugueses, diferentes em género, iguais em qualidade literária - isto digo eu , ignorante que sou. Vejamos:
O canal "Memória" trouxe-me o José Gomes Ferreira do " João Sem Medo", num documentário , onde a simplicidade de quem é grande é a maior presença.
José Saramago, omnipresente devido à polémica levantada pelo seu último livro, "Caim"...ou terá sido pelas suas opiniões, pela sua linguagem agressiva, indiferente à sensibilidade dos simples...( deles é o reino dos cèus...) ? esteve a todas as horas, em todos os canais. Um grande das letras portuguesas não precisava de se ter excedido tanto! E não foi, digo eu, pela publicidade! Quem tem a informação, a imaginaç ão, a capacidade de expressão notáveis de um génio...está publicitado por natureza. Porquê tanto amargor, tanta indiferença perante os outros,alguma sobranceria...antipática, atrevo-me a dizer?Porquê ?! Ficou - me o coração desconsolado, pela atitude. O livro, desconheço, por enquanto. Ainda ando a ler "A Viagem do Elefante".Muito interessada.
O momento mais alto destas minhas aventuras televisivas foi a entrevista de Judite de Sousa a António Lobo Antunes! Será difícil esquecer aquela presença, aquele sorriso de criança, aquela poesia em prosa que foi aquele diálogo; a simplicidade na grandeza das opiniões, simpáticas ou não , mas verdadeiras, a grandeza dos génios agressivamente presente - sem amargor, sem lamentações, num profundo respeito pelo sofrimento dos outros, numa consciência da pequenez do homem perante o seu Criador, na confiança na ciência e nos que a detêem,... sei lá bem quantos outros aspectos da vida! mas sempre na doçura da expressão, na tenura pelos outros, no sorriso esquivo que ilumina a criança dentro do adulto... - um encantamento !
O ter estado retida em casa, sem contactos com o exterior, foi compensado pela oportunidade de ver alguns programas bem interessantes. O que me leva a reflectir sobre a importância da televisão... em geral... mas em particular relativamente aos que mais nenhumas outras oportunidades têm de se informar, de se valorizar...ou de recordar - como é tão comum nesta fase da vida chamada de "Terceira Idade", à
qual terei obrigatoriamente de me ir habituando... contrariada...confesso!